Em Romanos 1.1-4, Paulo apresenta uma breve e aparentemente simples explicação do evangelho. Contudo, à luz de uma leitura devocional, ela nos gera um impacto eterno.
Já foi dito que “a simplicidade está logo além da complexidade”. Pode parecer paradoxal, mas essa frase busca destacar que toda verdade relevante pode ser expressa de maneira simples, embora se baseie em uma compreensão profunda do tema.
Nesta última semana, comecei uma leitura devocional da carta de Paulo aos Romanos. Defino leitura devocional como o processo de leitura no qual, após explorar o significado primário do texto, o leitor faz uma pausa para refletir sobre o que Deus está lhe dizendo sobre aquela passagem. Não se trata de uma leitura subjetiva do texto, haja visto que começa com um estudo de seu significado, nem tampouco um estudo exegético, já que, após esboçar seu significado primário, há um processo de meditação e reflexão sobre as verdades contidas ali, na busca por uma aplicação à vida do leitor e sua relação com Deus.
Nos primeiros quatro versículos, parei várias vezes para meditar sobre algumas das verdades ali expressas. Primeiramente, suspendi a leitura para refletir sobre o primeiro aspecto que Paulo usa em sua apresentação: “servo”. Estudei a palavra no original, busquei compreender como Paulo se definia como servo e por fim passei a refletir de que modo tenho experimentado essa postura de “servo de Deus” ao longo de minha vida. Reconheci que nem sempre agi ou reagi como servo, mas fiz exigências ou reclamei de alguma circunstância.

No entanto, voltando à questão da simplicidade a partir da complexidade, foi nos versículos 2-4 que parei para estudar e refletir sobre a simplicidade do evangelho. Deixe-me destacar a profundidade desta sentença de Paulo, que é, em si, bastante simples:
“Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual foi prometido por ele de antemão por meio dos seus profetas nas Escrituras Sagradas, acerca de seu Filho, que, como homem, era descendente de Davi, e que mediante o Espírito de santidade foi declarado Filho de Deus com poder, pela sua ressurreição dentre os mortos: Jesus Cristo, nosso Senhor.”
Paulo se diz separado para o evangelho de Deus; logo a seguir, começa oferecendo sua primeira qualificação do que é este evangelho. Este evangelho é:
- Prometido por Deus. Significa que Deus é o fiador, aquele que garante a oferta do evangelho. Não é uma ideia posterior ou uma novidade de Paulo sob influência de seus tempos.
- Por meio dos seus profetas nas Escrituras Sagradas. Paulo destaca o papel dos profetas (neste caso, referindo-se provavelmente a todos os autores do Antigo Testamento), assim como a base do evangelho nas Escrituras. Uma vez que as Escrituras têm sido relegadas a um mero testemunho da experiência de homens com Deus, a afirmação do apóstolo de que o evangelho se baseia nas Escrituras é fundamental. O fato de se basear não significa que depende, mas que foi revelado por meio destas Escrituras.
- Acerca de seu Filho. Esta é a essência do evangelho: Jesus Cristo! O evangelho é muito mais que uma argumentação bem desenvolvida. O evangelho é Jesus Cristo, sua existência eterna, sua obra redentora e seu chamado à salvação.
A partir daqui, Paulo nos oferece uma breve introdução do tema que perpassa toda a carta: quem é Jesus Cristo e quais são suas qualificações para ser, como Pessoa, a essência do evangelho.
- Como homem, era descendente de Davi. Paulo aponta imediatamente para o fato de que Deus se fez homem. Não apenas incorporou um ser humano, ou se disfarçou de humano. Jesus era plenamente humano e, como cumprimento das profecias, era descendente de Davi.
- Mediante o Espírito de santidade foi declarado Filho de Deus com poder, pela sua ressurreição dentre os mortos. Jesus Cristo era simultaneamente Filho de Deus. Não “filho” no sentido de que foi gerado posteriormente, mas de que se origina de Deus, tendo a mesma essência e poder de Deus. Não só sua origem é explicitada, ainda que brevemente, mas também sua ressurreição, ou seja, o fato de que a morte não tinha poder sobre ele.
- Jesus Cristo, nosso Senhor. Finalizando sua breve introdução do evangelho, Paulo a resume em uma pessoa: Jesus Cristo.
Eu convido você a refletir sobre essas verdades profundas, apresentadas em uma sentença que aparentemente parece simples. Oro para que, na nossa vida, verdades simples tenham impacto eterno.
Autor
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Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.
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