Aprendendo a Discernir – Credo Pessoal

Ao sabermos os pontos essenciais daquilo que acreditamos, temos uma base melhor para combater falsos ensinos. Como fazer isso a partir da Bíblia?

Uma das atividades com as quais me ocupo sempre que posso é trabalhos em madeira. Não sou um marceneiro profissional, mas gosto muito de realizar pequenos trabalhos e assim abençoar pessoas ao meu redor, além de meu próprio lar. Recentemente, tive a oportunidade de construir estantes para meus livros em um novo escritório. Como as estantes são grandes e várias peças são iguais, havia muitos cortes repetitivos. Para tanto, eu logo investi o tempo em fazer moldes ou “padrões” para cortar as várias peças de madeira sempre do mesmo tamanho. Sendo que eu poderia medir cada corte, pode parecer que fazer um padrão é um desperdício de tempo ou mesmo de material. No entanto, aprendi que certamente economiza tempo e evita erros.

O mesmo ocorre em nossa vida espiritual. Ao ouvirmos um novo ensino, especialmente aqueles que são bem-feitos, é fácil sermos enganados por palavras bem articuladas, raciocínios elaborados ou explicações sofisticadas. Uma das ferramentas que aprendi para me ajudar a discernir é desenvolver alguns padrões ou uma régua doutrinária que me ajuda a “medir” os ensinos que ouço. São muitos os elementos que uso, mas, neste terceiro artigo, gostaria de examinar uma passagem que me serve como padrão para avaliar ensinos. 

“Pois o que primeiramente transmiti a vocês foi o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e, mais tarde, aos Doze. Depois disso, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maioria dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Em seguida, apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; finalmente, como a um que nasceu fora de tempo, apareceu também a mim.” (1Coríntios 15.3-8)

Esse trecho é considerado por estudiosos como um dos primeiros “credos” ou declarações doutrinárias da igreja primitiva. Repare comigo em como essa passagem nos fornece elementos para avaliarmos qualquer ensino que queira se apresentar como cristão:

Primeiro – Ortodoxia. Essa declaração foi algo recebido de alguém com autoridade (vide nosso último artigo). Paulo diz que recebeu e que se mantém fiel, e, ao final do texto, inclui os apóstolos como testemunhas daquilo que está declarando. Nossa autoridade última é a Bíblia, e não a história cristã. Sendo assim, nem tudo que recebemos ao longo da história cristã é absoluto, inclusive há várias divergências. Ao mesmo tempo, se você ouvir um ensino totalmente novo, que entra em choque com o que a igreja cristã tem afirmado ao longo dos séculos, é um sinal sério de que este ensino deve ser rejeitado até que um exame muito cuidadoso seja conduzido.

“Nossa autoridade última é a Bíblia, e não a história cristã.”

Segundo – Morte Vicária. Cristo morreu pelos nossos pecados. Há muita verdade nessa frase simples. Primeiro, somos pecadores. Não somos perfeitos nem merecedores de salvação, mas de punição, de morte eterna. Segundo, a morte de Jesus não foi um acidente ou um exemplo, nem mesmo um ato de protesto contra um sistema opressor. Ele morreu voluntariamente como propiciação (substituição) e expiação (pagamento) pelos nossos pecados. Qualquer ensino que diminui ou nega esse ato de amor sacrificial deve ser rejeitado. Falsos mestres têm se desviado dessa verdade, afirmando que não temos pecado, ou que somos merecedores da salvação ou ainda que Jesus morreu por desafiar um sistema opressor.

Terceiro – Morte e Ressurreição. Jesus realmente morreu, não foi um coma, ou um desmaio. E realmente ressuscitou, não foi uma alucinação, não foi um espírito que surgiu ou alguma aparição. Paulo, no restante do capítulo 15 de 1Coríntios, investe muito tempo explicando a importância fundamental da ressurreição. Qualquer ensino que relativize, diminua ou deixe de colocar a ressurreição como central em nossa salvação deve ser rejeitado.

Quarto – Escrituras. Paulo se esforça para destacar que tudo isso ocorreu segundo as Escrituras. Nesse caso, ele se refere primariamente ao Antigo Testamento. Sua compreensão da autoridade das Escrituras não é apenas como registro da experiência que alguns tiveram com Deus, mas que o próprio registro traz em si a Palavra de Deus. Qualquer ensino que diminui, relativiza e/ou busca distorcer as Escrituras para torná-las mais compatíveis com o pensamento atual deve ser rejeitado.

“Qualquer ensino que diminui, relativiza e/ou busca distorcer as Escrituras para torná-las mais compatíveis com o pensamento atual deve ser rejeitado.”

Quinto – Evidências Factuais. Os eventos descritos na vida, morte e ressurreição de Jesus são factuais, ou seja, realmente aconteceram. Não são só explicações de cristãos da época, não são mitos escritos para explicar o que não podiam explicar. São descrições factuais daquilo que aconteceu. Paulo indica que houve testemunhas oculares que ainda podiam, na época, ser consultadas. Qualquer ensino que busca tornar as Escrituras um relato mítico ou fruto da imaginação bem-intencionada das testemunhas dos eventos, sem uma relação com o que realmente ocorreu, deve ser rejeitado.

Essa é uma breve lista de padrões, de pontos fundamentais que podemos tirar desse trecho das Escrituras – mas certamente há muito mais. Minha oração é que você estabeleça para si mesmo uma lista de pontos inegociáveis, sinais de alerta para discernir falsos ensinos. 

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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