Cuidado com Falsos Líderes Espirituais

Quais são as características de falsos líderes espirituais? Como podemos evitar nos tornarmos um deles?

Recentemente, conversando com um amigo, ele comentou que pastores famosos estão investindo muito nas roupas que usam em seus cultos e outros eventos. Devo confessar que eu mesmo nunca me importei muito com roupas de modo geral. Sempre procurei usar roupas que se encaixem com o ambiente, dentro de minhas posses, me vestindo mais formal quando adequado e mais informal quando a oportunidade me permite. Instigado pelas palavras desse meu amigo, fui investigar. Fiquei chocado com posts que calculam o quanto custam essas roupas e acessórios, como relógios, bolsas, óculos e outros. Chocado não pela formalidade, mas pelo custo de seu “outfit”. Pastores ostentando roupas de mais 30 mil reais, relógios de milhares de reais, acessórios caríssimos. Tudo isso contribui para sua relevância, dizem eles. Eu, no entanto, sou levado a Lucas 20.45-47:

“Cuidado com os mestres da lei. Eles gostam de andar com roupas especiais e amam as saudações nas praças, os assentos mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Devoram a casa das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!”

Jesus, após ensinar sobre sua divindade, alerta os mestres da lei. Estes eram homens, tanto fariseus como saduceus, que investiam grande parte do seu tempo em conhecer e interpretar a Lei. Eram tidos (especialmente os fariseus) em grande respeito pelo povo, pois eram aqueles que lhe explicavam a Lei e seu sentido. No entanto, as palavras de Jesus eram duras e apresentavam críticas, provavelmente não a todos, mas a muitos deles. Essas críticas eram direcionadas aos mestres da Lei de Israel no primeiro século, mas podemos abstrair princípios para os líderes espirituais de nossos dias. Vamos examiná-las:

1. Gostam de andar com roupas especiais. A expressão usada para roupas especiais é “veste externa e solta, que se prolonga até os pés, própria para homens. Usada pelos reis, sacerdotes, e pessoas de posição”. O trabalhador braçal em Israel não possuía roupas especiais, inclusive porque eram caras. Eram roupas que visavam impressionar pelo seu luxo, destacando essas pessoas como pessoas de poder e relevância. Em resumo, eram símbolos de poder. O primeiro princípio que podemos tirar desse alerta é que líderes espirituais devem se preocupar em influenciar com seu conteúdo, com o quanto seu coração está alinhado com o Senhor. Líderes devem cuidar para que sua influência não se baseie em nenhum fator externo.

Líderes devem cuidar para que sua influência não se baseie em nenhum fator externo.

2. Amam as saudações nas praças, os assentos mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Saudações públicas, orais ou escritas, buscavam enaltecer a pessoa. Falavam de seus atributos, de suas realizações, de seus estudos. Da mesma forma, lugares de destaque nas sinagogas e nos banquetes eram reservados às pessoas consideradas mais importantes. (Neste ponto é bom lembrar da advertência contra acepção de pessoas em Tiago 2.1-9.) O que os mestres gostavam mesmo era dos privilégios e honrarias – talvez em nossos dias diríamos que eles “gostavam de aparecer”. O princípio ligado a essa advertência é que o líder espiritual, reconhecendo que sua influência vem de sua intimidade com o Senhor e não de sua competência pessoal, deve cuidar para que os privilégios e as honras que recebe não tomem um lugar importante demais em suas vidas. Para evitar isso, sugiro que intencionalmente evitem esses privilégios e honrarias.

3. Devoram as casas das viúvas e para disfarçar fazem longas orações. Não há clareza sobre o que significa a primeira expressão. Não sabemos em que contexto exatamente esses mestres “devoravam” as casas das viúvas. O mais provável é que eles se aproveitassem das vendas dessas casas, exigindo ou obtendo uma parte da venda por manipulação ligada às suas orações. De qualquer forma, usar orações como disfarce aponta para a terrível prática do abuso religioso. Esta é a situação em que um religioso tira vantagem de alguém vulnerável usando suas crenças e provavelmente fazendo promessas distorcidas ou falando mentiras com um verniz religioso. Infelizmente, isso não é tão incomum, mesmo entre igrejas evangélicas. 

O que os mestres gostavam mesmo era dos privilégios e honrarias – talvez em nossos dias diríamos que eles “gostavam de aparecer”.

Curiosamente, somos lembrados de 2Timóteo 3.1-5, onde Paulo alerta sobre os tempos terríveis que sobrevirão nos últimos dias. Paulo descreve homens ímpios, sem amor por Deus, pela família ou pelo próximo. Pelo contrário, serão amantes de si mesmos e de seus prazeres. Ao concluir o parágrafo no versículo 5, ele escreve: “Embora tenham aparência de piedade, negam o seu poder.”. Em outras palavras, esses homens terríveis serão religiosos, provavelmente falsos líderes espirituais.

Minha oração não é contra esses falsos líderes espirituais de hoje. O Senhor cuidará deles. Minha oração é por você e por mim. Primeiro para que, caso exerçamos liderança, estejamos atentos aos alertas de Jesus. Em segundo lugar, para que estejamos alertas também para não sermos seduzidos por líderes assim. Para este fim, Hebreus 13.7 é um excelente auxílio: “Lembrem‑se dos seus líderes, que transmitiram a palavra de Deus a vocês. Observem bem o resultado do estilo de vida deles e imitem a sua fé”.

Autor

  • Daniel Lima (D.Min., Fuller Theological Seminary) serviu como pastor em igrejas locais por mais de 25 anos. Também formado em psicologia com mestrado em educação cristã, Daniel foi diretor acadêmico do Seminário Bíblico Palavra da Vida (SBPV) por cinco anos. É autor, preletor e tem exercido um ministério na formação e mentoreamento de pastores. Casado com Ana Paula há mais de 30 anos, tem quatro filhos, dois netos e vive no Rio Grande do Sul desde 1995. Ele estará presente no 26º Congresso Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.

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