O que a Parábola da Moeda Perdida nos Ensina Sobre a Salvação

Jesus utilizou a parábola da moeda perdida em Lucas 15 para trazer valiosas lições sobre a nossa salvação.

“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma delas, não acende a lamparina, varre a casa e a procura com muito empenho até encontrá-la? E, quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrem-se comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido’. Eu afirmo a vocês que a mesma alegria existe diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.” (Lucas 15.8-10)

Contextualizando a parábola

O Senhor Jesus tinha acabado de contar a história da ovelha perdida que foi encontrada. Imediatamente, ele continua com: “Ou qual é a mulher…” (Lucas 15.8), apresentando outra parábola com o mesmo princípio, o mesmo tema e a mesma mensagem central.

A nova história inclui os quatro elementos também presentes na parábola sobre a ovelha perdida e o pastor: perda, busca, descoberta e alegria.

Lembre-se dos versículos de abertura: o Senhor está se dirigindo aos líderes religiosos, que reclamam do fato de ele comer com “coletores de impostos” e não se manter distante de “pecadores” (v. 1-2).

Compreendendo a parábola

Observe como o Messias encontra formas cada vez mais afiadas de repreender o orgulho, em especial o orgulho espiritual: nessa parábola, ele começa com: “Ou qual é a mulher que…”. A isso, os fariseus levantam a sobrancelha: “Como ousa nos comparar com mulheres? Não sabe que em nossa sociedade é inaceitável falar com um grupo de homens como se eles fossem mulheres?”.

Então, justificariam sua reação citando razões culturais e tradicionais, como por exemplo:

  • “Não há sabedoria em uma mulher, exceto tecer com um fuso” (Talmude Babilônico, Yoma 66b).
  • “Uma mulher não é qualificada para servir como testemunha [no tribunal]” (Shulchan AruckChoshen Mishpat 35.14);
  • “Antes queimar as palavras da Torá do que entregá-las a uma mulher” (Talmude de Jerusalém, Sotah 3.4).
  • “Bendito és tu… que não me criaste como mulher” (Siddur Ashkenaz, livro de oração com bênçãos matutinas).

“Portanto, não nos compare com mulheres!” Mas esta é simplesmente a parábola ideal para destacar o processo:

1. Perda

A “mulher” da história tem dez dracmas e perde uma delas (Lucas 15.8a). Os ouvintes logo entendem: essa é uma mulher muito simples; por exemplo, uma vizinha do pastor da parábola anterior. As “dez dracmas” são sua reserva de emergência, ou talvez parte do dote que ela trouxe quando se casou.

2. Busca

Essa senhora não tem servos nem empregadas a quem delegar sua busca. Ela mesma precisa cuidar disso (v. 8b).

Ela “acende a lamparina”. Isso indica que ela não mora num casarão, onde os servos acendem dezenas de lamparinas a óleo à noite para iluminar cada salão, corredor e escadaria. Ela mora numa casinha de aldeia – uma moradia de um só cômodo, em que mesmo durante o dia não entra muita luz, já que não há outras aberturas além da porta da rua.

Ela “varre a casa” porque não tem um chão de mármore polido. O piso é de pedra, nivelada com martelo e formão durante a construção da casa. O cômodo é um constante centro de atividade: familiares, crianças, visitantes e até animais entram e saem o tempo todo. Durante os meses de inverno, o ambiente faz as vezes de cozinha e sala de jantar. Em resumo, era preciso varrer o chão com frequência – especialmente quando se procurava algum objeto pequeno como uma moeda.

Ela “procura com muito empenho até encontrá-la”. Os ouvintes assentem: é claro! Essa mulher está se sentindo pressionada. Como explicar ao marido que perdeu dez por cento das economias da família, que estavam debaixo de sua responsabilidade?

3-4. Descoberta e alegria

“E, quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: ‘Alegrem-se comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido’” (v. 9). Note como isso destaca o contraste entre a vida nas modernas sociedades urbanas ocidentais e a vida comunitária nas aldeias da época de Jesus.

Hoje em dia, em nossas cidades, ninguém faz a menor ideia do que o vizinho perdeu e está procurando ou mesmo o que achou em seu apartamento. Tragicamente, em alguns casos o vizinho pode até morrer e se passarem semanas até que alguém finalmente ligue para a polícia por sentir um cheiro estranho vindo daquele lado.

Os ouvintes de Jesus estavam acostumados a uma vida social vibrante e unida.

Já os ouvintes de Jesus estavam acostumados a uma vida social vibrante e unida. Uma dona de casa como a descrita na parábola não tinha muita ideia do que era privacidade. No ambiente apertado da vida nas aldeias, todo mundo sabia e ouvia o que estava acontecendo na casa dos vizinhos. As portas ficavam abertas durante o dia, as crianças corriam livremente de casa em casa e as mulheres frequentavam pátios e casas umas das outras com grande naturalidade, para conversar, pegar algo emprestado, ajudar nas tarefas, resolver pequenos problemas como “acabou meu sal” e, é claro, fofocar – um monte!

Quando a mulher na parábola percebeu que havia perdido uma de suas dez moedas, alguém – uma sobrinha no pátio, uma prima, a sogra, uma vizinha idosa que estava separando lentilhas do outro lado da rua ou uma cunhada que morava duas casas depois – inevitavelmente enfiaria a cabeça pela porta para perguntar: “O que aconteceu? Por que você está gritando?”.

As Parábolas do Messias Jesus

por Meno Kalisher e Helmut Iffert

Entenda melhor as parábolas de Jesus nos Evangelhos com este guia abrangente, escrito por dois teólogos que vivem em Jerusalém, e saiba como elas podem impactar profundamente a sua vida.

Da mesma forma, agora que a busca tinha sido encerrada com sucesso, era perfeitamente natural que a mulher quisesse compartilhar sua alegria com todos que haviam ouvido de sua perda. Sua declaração “Alegrem-se comigo” é um eco da celebração coletiva da parábola da ovelha perdida, reforçando a verdade de que “alegria compartilhada é alegria dobrada”.

A analogia da parábola e sua aplicação

Assim como fez depois da parábola da ovelha perdida, o Senhor Jesus explica o que desejava enfatizar por meio de uma declaração única e concisa: “Eu afirmo a vocês que a mesma alegria existe diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lucas 15.10). “Vocês se alegram quando recuperam um animal ou um objeto perdido. Quanto mais Deus se alegrará com a restauração de um pecador – com a salvação de um único indivíduo!”

Você notou a fraseologia no versículo 10? “A mesma alegria existe diante dos anjos de Deus.” Não se trata de alegria dos anjos em si. Quem está “diante dos anjos”? Deus, é claro. Os olhos dos anjos estão sempre nele. É Deus quem se alegra, e todos os habitantes do céu se alegram com ele. O versículo 7 transmite a mesma verdade: “Assim, haverá… alegria no céu”. O céu é o lugar da habitação de Deus, e, se há alegria ali, então se trata da alegria do Criador. Lembre-se: toda essa alegria tremenda, divina e celestial é “por um pecador que se arrepende”.

Em duas parábolas consecutivas, o Senhor Jesus enfatiza a alegria no céu pela salvação de pecadores. Duas vezes seguidas, ele nos lembra do que realmente importa para Deus.

Neste ponto, é impossível fugir da pergunta: que importância a salvação de pecadores tem para você e para mim? Será que você e eu nos empenhamos em levar alegria a Deus por meio do nosso engajamento no evangelismo? Ou somos mais como os fariseus, satisfeitos e contentes com nossa religiosidade, sem ver a necessidade de sujar as mãos ao estendê-las aos pecadores?

Por meio da parábola da moeda, Jesus acrescenta a perspectiva de um objeto inanimado, passivo. A moeda não tinha como contribuir em nada para ser encontrada. Não consegue levantar a cabeça, ou rolar na direção da mulher que a procura, nem balir como a ovelha. É um objeto sem vida.

Se Deus não tomar a iniciativa, lançando sua luz sobre o pecador e arrancando-o da sujeira do pecado, ele ficará perdido para sempre.

Esses dois aspectos também se aplicam ao pecador:

Como a ovelha, o pecador é alguém que escolheu não andar pelo caminho certo – o caminho da obediência a Deus – definido no Antigo e Novo Testamentos. E, como a ovelha, quando quer retornar, o pecador percebe que é incapaz de desfazer suas escolhas erradas. O pecador é escravo do pecado (2Pedro 2.19). Não pode salvar a si mesmo. Sem ajuda, ele morrerá.

Como a moeda, o pecador não tem a menor capacidade de mudar ou melhorar sua situação diante de Deus. O apóstolo Paulo descreve sua condição com as seguintes palavras: “… vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados” (Efésios 2.1). O pecador “morto” não tem como contribuir para sua salvação. Se Deus não tomar a iniciativa, lançando sua luz sobre o pecador (como a mulher com a lamparina) e arrancando-o da sujeira do pecado (como a mulher com a vassoura, v. 8), ele ficará perdido para sempre.

Ainda que realmente seja o Senhor Jesus que busca, restaura e salva o pecador perdido, note que, nas duas interpretações (v. 7,10), Jesus diz que o “pecador… se arrepende”. Ele não é passivo no processo.

Este artigo foi extraído e adaptado do livro As Parábolas do Messias Jesus, escrito por Meno Kalisher e Helmut Iffert.

Autores

  • Meno Kalisher (D.Min., The Master's Seminary) é judeu messiânico e pastor da igreja Jerusalem Assembly House of Redemption, localizada em Jerusalém, Israel. Palestrante e professor convidado em seminários ao redor do mundo, também escreveu alguns livros, publicados no Brasil pela Chamada. Casado com Anat, tem quatro filhos adultos.

    Ver todos os posts
  • Helmut Iffert é editor, designer gráfico e apaixonado por estudar e ensinar a Palavra de Deus. Como presbítero da igreja Jerusalem Assembly – House of Redemption, está comprometido com o serviço na igreja e com a escrita de comentários bíblicos perspicazes. Casado com Miriam, vive em Jerusalém.

    Ver todos os posts

Artigos relacionados

Quais são os possíveis frutos de situações constrangedoras e injustas? Vejamos os exemplos extraídos do caminho do Messias até a...