A exclamação “está consumado!” (grego, tetelestai) revela várias facetas: com ela, cumpriu-se a Lei. Jesus cumpriu a Lei inteira porque ele mesmo jamais pecou – desde a obediência aos seus pais até o último momento da sua vida. Em Gálatas 4.4, o apóstolo diz que Jesus nasceu “debaixo da lei”. Embora como outorgante da Lei ele estivesse acima dela, ele se posicionou debaixo dela. Embora ele tivesse sido o único que cumpriu a Lei integralmente, ele teve de assumir a punição da Lei, ou seja, a morte, pois tomou a nossa culpa sobre si. Inocente, ele foi condenado como um culpado “a fim de redimir os que estavam sob a Lei, para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.5).
O único justo suportou a culpa de todos os outros que jamais poderiam cumprir a Lei e que por isso estavam sujeitos à condenação por Deus. Por meio de Jesus, a exigência da Lei foi cumprida, e com isso a justiça de que ele nos reveste está perfeita. Somos justificados diante de Deus porque a dívida foi paga. Ninguém mais precisa ficar distante de Deus, porque a dívida de toda a humanidade foi paga de uma vez por todas. Quem quer que aceite isso pela fé torna-se filho de Deus, porque “está consumado!”.
Consumação como cumprimento da Escritura
Na cruz, Jesus também cumpriu a profecia do Antigo Testamento. João 19 diz duas vezes a respeito disso: “… para que se cumprisse a Escritura” (v. 24,29). Ela também foi consumada com a vida e a morte do Senhor. Mais de 300 profecias cumpriram-se com sua vida, morte, ressurreição e ascensão. Não há nada nem remotamente semelhante em toda a literatura secular e em nenhuma outra religião. A Bíblia é única e fala continuamente daquele que é o Único.
O cumprimento da Palavra foi desde o início a missão e a intenção do Senhor. Em seus últimos dias antes de morrer, o Senhor disse aos seus discípulos: “Estamos subindo para Jerusalém, e tudo o que está escrito pelos profetas acerca do Filho do homem se cumprirá. Ele será entregue aos gentios que zombarão dele, o insultarão, cuspirão nele, o açoitarão e o matarão. No terceiro dia ele ressuscitará” (Lucas 18.31-33).
Embora como outorgante da Lei ele estivesse acima dela, Jesus se posicionou debaixo dela. Embora ele tivesse sido o único que cumpriu a Lei integralmente, ele teve de assumir a punição da Lei (a morte), pois tomou a nossa culpa sobre si.
Sempre foi importante para o Senhor Jesus cumprir a Escritura. Basta pensar nos salmos 22 e 69 e em Isaías 53 para reconhecer como as previsões do Antigo Testamento se cumpriram – e com que precisão. Mesmo o vacilante Pilatos não se deixou dissuadir de designar Jesus rei dos judeus a fim de que também por intermédio disso se cumprissem as diversas passagens das Escrituras segundo as quais o Messias viria como rei.
Ao clamar “tenho sede”, o Senhor cumpriu Salmos 69.21, que diz: “Puseram fel na minha comida e para matar-me a sede deram-me vinagre”. Poderíamos achar que isso não passa de um pequeno detalhe. Depois de tudo que já se cumprira, que diferença faria se uma profecia tão pequena, talvez mesmo não muito clara, não se cumprisse? É claro que o Senhor realmente tinha sede, mas logo antes de morrer ele ainda cumpriu essa profecia com suas últimas forças.
Tendo então ressuscitado e aparecido aos seus discípulos no caminho de Emaús, ele disse: “Foi isso que eu falei enquanto ainda estava com vocês: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.44). Em Atos 13.29, Paulo diz: “Tendo cumprido tudo o que estava escrito a respeito dele, tiraram-no do madeiro e o colocaram num sepulcro”.
Ao observar a precisão com que se cumpriram em Jesus declarações feitas centenas e, em parte, até milhares de anos antes, não é possível deixar de crer no Deus da Escritura e naquele de quem tratam essas profecias. Em Jesus cumpre-se o Antigo Testamento, porque “está consumado!”.
Todavia, não se cumpriram apenas profecias diretas, mas também imagens proféticas, as chamadas tipologias do Antigo Testamento que apontam para a morte de Jesus. Assim, por exemplo, o cordeiro, a serpente elevada no deserto, todos os sacrifícios, Jonas etc. A festa da Páscoa oferece uma previsão especial daquilo que Jesus realizou na cruz – e até o último detalhe, como por exemplo o emprego do hissopo. Quando Jesus disse “tenho sede”, fixaram uma esponja com vinagre num hissopo para estendê-la até seus lábios. Encontramos essa imagem em Êxodo 12.22. Para serem protegidos contra a morte dos primogênitos por meio do anjo executor, os israelitas tiveram de aplicar o sangue do cordeiro pascal nas molduras das portas por meio de um “feixe de hissopo”. Só assim seriam poupados da execução. O paralelismo com o cordeiro pascal é evidente: quem aplicar o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus, à sua vida ao crer na obra redentora de Jesus na cruz, será poupado do justo juízo de Deus. Essa pessoa estará salva.
Na morte de Jesus cumpriram-se também todos os sacrifícios tipológicos, tornando-se desde então desnecessários.
Já desde o início da humanidade encontramos essa imagem da obra de Jesus. Quando o Senhor vestiu Adão e Eva, requereu-se para isso a morte de um animal. Trata-se de um símbolo da veste de justiça que podemos receber por intermédio de Jesus ou que, se formos crentes, já recebemos.
O sacrifício de Abel foi um aroma agradável para Deus, assim como o do Senhor Jesus.
Na morte de Jesus cumpriram-se também todos os sacrifícios tipológicos, tornando-se desde então desnecessários.
Foi baseado em um sacrifício que se instituiu uma aliança eterna entre Deus e Abraão e seus descendentes. Por sua vez, a morte de Jesus é a eterna promessa para todo aquele que celebra a aliança com ele, tornando-se propriedade de Deus por toda a eternidade.
Deveria bastar-nos o cordeiro pascal para entender a redenção: assim como naquela ocasião entre os israelitas só eram guardados da pena de morte os que permaneceram sob a proteção do sangue do cordeiro, assim também hoje só serão efetivamente guardados da condenação à morte aqueles que se identificarem com o sacrifício de Jesus, ganhando a vida eterna.
Desde os tempos de Moisés, milhares e milhares de animais inocentes morreram. Dia após dia os sacerdotes tinham de abater toda sorte de animais. Imaginemos a situação: aparece no tabernáculo ou, mais tarde, no templo, um israelita todo deprimido e o sacerdote pergunta: “O que há?”. O israelita responde: “Pequei e estou trazendo este cordeiro para que Deus me perdoe”. Enquanto o israelita impõe suas mãos sobre a cabeça do animal como sinal de identificação, o sacerdote puxa sua faca e então corre o sangue. Aliviado, o israelita segue seu caminho. Um animal inocente morreu por sua culpa. Mas é possível que nem passem alguns dias e o mesmo israelita se apresente novamente à porta com outro animal. Ele pecou de novo. Talvez o sacerdote até pergunte: “Essa matança não vai acabar nunca?”.
Todavia, Deus mesmo havia instituído esses sacrifícios porque o pecado só podia ser expiado por meio de sangue. Com isso, os israelitas podiam enxergar a seriedade com que Deus trata o pecado e como este só poderia ser cancelado pela morte de um ser inocente cujo sangue fosse derramado. Desde então correram rios de sangue.
Algo muito especial era o Dia da Expiação. Nele, o sumo sacerdote tinha de abater um bode pelo pecado de todo o povo e aspergir seu sangue no lugar santíssimo, na presença de Deus, sobre o propiciatório – a cobertura da arca da aliança. Dessa forma o povo era reconciliado com Deus. Isso, porém, precisava ser repetido continuamente, ano após ano. O derramamento de sangue não tinha fim. Era terrível.
Consumação realizada
O profeta Isaías aponta para Jesus como Cordeiro de Deus. A conhecida passagem no livro de Isaías diz: “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças; contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados. Todos nós, como ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio caminho; e o Senhor fez cair sobre ele [Jesus] a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido; e, contudo, não abriu a sua boca; como um cordeiro, foi levado para o matadouro; e, como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca” (Isaías 53.4-7).
Séculos depois, quando João Batista viu o Senhor Jesus, ele exclamou duas vezes, cheio de admiração: “Vejam! É o Cordeiro de Deus!” (João 1.29,36).
Será que reconhecemos então a seriedade com que Deus encara o pecado? Reconhecemos como era necessário que o Senhor derramasse o seu sangue? O apóstolo João escreve: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo” (1João 2.2).
Assim podemos entender o autor da carta aos Hebreus quando repete com alívio as palavras “de uma vez por todas”, como por exemplo em Hebreus 9.12-14: “Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Lugar Santíssimo, de uma vez por todas, e obteve eterna redenção. Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam, de forma que se tornam exteriormente puros, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, para que sirvamos ao Deus vivo!”.
Tendo isso em vista, também entenderemos bem melhor o apóstolo Pedro quando ele nos mostra o grande valor do sangue de Jesus: “Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito” (1Pedro 1.18-19). O derramamento de sangue acabou porque “está consumado!”. O Cordeiro de Deus suportou a nossa culpa. Jesus teve de ser separado do Pai para que nós pudéssemos ter comunhão com ele. Foi necessário ele morrer para que pudéssemos ter a vida eterna. João 19.30 testifica de modo inequívoco a morte dele: “… curvou a cabeça e entregou o espírito”. Por meio da sua morte podemos ter a vida, e vida em abundância, porque “está consumado!”.
Contudo, o Senhor Jesus não somente cumpriu a Palavra de Deus, mas ele próprio é a Palavra (João 1.1), e ele a entregou a nós. Ele é a Palavra de Deus encarnada, por meio da qual foi criado o mundo e se consumou a redenção. Essa palavra é a revelação definitiva de Deus aos homens: “Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho” (Hebreus 1.1-2).
Poderíamos agora objetar que não é bem assim, porque depois da vida, da pregação e da obra de Jesus nesta terra ainda vieram os apóstolos que nos deram o Novo Testamento. Mas eles receberam do Senhor aquilo que anotaram. Jesus mesmo previu isso: “Mas, quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e anunciará a vocês o que está por vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês” (João 16.13-14).
Isso também inclui o livro de Apocalipse. Muitas vezes pensamos que o tema principal do último livro da Bíblia seja a profecia do que acontecerá no futuro. Embora isso em parte seja verdade, lemos logo no início: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, que dá testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo”.
Apocalipse também vem de Jesus e fala dele, como ele mesmo testifica: “‘Eu sou o Alfa e o Ômega’, diz o Senhor Deus, ‘o que é, o que era e o que há de vir, o Todo-Poderoso’” (Apocalipse 1.8). No final de Apocalipse, mais uma vez o Senhor nos testifica isso ao dizer: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: ‘Sim, venho em breve!’” (Apocalipse 22.20).
Dessa forma podemos dizer que toda a Escritura Sagrada encontrou seu cumprimento no próprio Senhor Jesus, porque “está consumado!”.
Na cruz ele também cumpriu a incumbência do Pai. Jesus orou em João 17.4: “Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer”. Na cruz ele cumpriu plenamente a vontade do Pai. Em Mateus 20.28 ele já havia descrito sua missão: “Como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.
No Getsêmani, ele implorou com lágrimas para não precisar passar por aquela hora que pela primeira vez o separaria do Pai. Porque ele, que nunca pecou, sabia que, como cordeiro sacrifical na cruz, ele receberia o fardo do pecado do mundo, e que aquilo significava condenação e separação de Deus. Mas no mesmo instante ele também disse conscientemente: “… não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22.42). Ele estava disposto a tomar até a última gota desse amargo cálice com suas consequências, até que pudesse exclamar: “Está consumado!”. Quando inclinou sua cabeça e entregou o espírito, ele havia cumprido sua missão. A trajetória que começara em Belém terminou ali na cruz. Ele chegara ao alvo.
Ao exclamar “está consumado!”, Cristo também cumpriu o seu amor até o fim. Lemos em João 13.1: “Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”.
O amor de Jesus também chega à perfeição na cruz. Já antes disso nenhuma palavra hostil passou por seus lábios. Ele chamou de “amigo” aquele que o traiu; dirigiu um olhar amoroso e triste àquele que o negou; ele perdoou os soldados que o pregaram. Podemos observar esse amor até nos seus últimos minutos de vida. Embora sofresse insuportáveis dores físicas, emocionais e principalmente espirituais, ele ainda se lembrou de sua mãe ao confiá-la a um dos seus discípulos, colocando-o ao lado dela – e estou convicto de que João, que aqui omite o seu nome, cumpriu essa tarefa com todo o amor, pois acabara de testemunhar o maior ato de amor da história do mundo.
Somente quem experimentou pessoalmente o amor de Cristo poderá também amar verdadeiramente. Foi o mesmo João que escreveu que “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (João 15.13). Também foi João quem exclamou, entusiasmado: “Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!” (1João 3.1). E como o amor de Deus se revela de forma mais clara? A resposta também é de João: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Se podemos afirmar que alguém amou, é o Senhor, e o seu amor é encimado pela expressão “está consumado!”. Você já reconheceu e aceitou esse amor? Se o fez, ama os outros com esse amor?
Consumação da salvação
Na cruz também se consumou a salvação. Depois de tudo o que vimos até aqui, nem seria mais necessário destacar isso, mas é claro que a salvação também foi consumada! Por natureza, o homem está perdido e distante de Deus. Contudo, todo aquele que crê em Jesus, pede-lhe perdão pelos seus pecados e o recebe em sua vida, é libertado e permanece para sempre livre do fardo do seu pecado. Não há mais nada a acrescentar.
É muito revelador o que nos confirma um achado arqueológico com relação à palavra tetelestai. Há não muito tempo encontrou-se em escavações de uma repartição tributária daqueles tempos uma pilha de antiquíssimas faturas sobre as quais constava em grandes letras a palavra tetelestai. Ou seja: “Integralmente pago”. Com isso entendemos ainda um pouco melhor o que significa essa palavra vinda de Jesus. A dívida do pecado está paga, o poder do pecado foi rompido, nossos pecados estão eternamente perdoados quando pertencemos a Jesus. Aqueles milhares de sacrifícios foram como uma pequena e incompleta antecipação. Graças à morte de Jesus, porém, a fatura da nossa vida contém a anotação: “Paga”. Por isso podemos dizer com o apóstolo Paulo: “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós” (Romanos 8.33-34).
O autor de Hebreus confirma que Jesus veio de uma vez por todas “para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo” (Hebreus 9.26). Não precisamos acrescentar mais nada. Não precisamos mais realizar obras, aderir a nenhuma religião ou temer pela nossa salvação eterna. A quem assume para si o sacrifício de Jesus, o pecado está perdoado para sempre, a culpa está eternamente extinta e a salvação está absolutamente assegurada, porque Jesus exclamou: “Está consumado!”.
“Consumado” significa também vitória sobre o pecado, a morte e o Diabo. Paulo escreve: “Mas graças a Deus, que sempre nos conduz vitoriosamente…” (2Coríntios 2.14). Agora podemos viver nessa vitória em nossa vida diária e, ao final da nossa vida, encarar tranquilos o passo para a eternidade, que daremos com aquele que disse “está consumado!” – e que depois disso foi para o Pai.
Aplicação
Agora, como podemos aplicar isso em nossa vida diária? A primeira coisa (se ainda não a fizemos), é aceitar a salvação. Depois de tudo que foi dito, só me resta ainda expressar um convite e uma advertência. O convite é: “Se hoje vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração, como na rebelião” (Hebreus 3.15). Há quando temo já temos ouvido a voz de Deus? Quantas vezes ele já te convidou a chegar-se a ele? Não continue com o coração endurecido! A advertência é: “Como escaparemos, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2.3a).
Algum tempo atrás aconteceu que o motor de um barco de pesca falhou no topo das grandes Cataratas do Niágara. O barco foi arrastado pela correnteza. Os dois pescadores saltaram na água e nadaram pela vida em direção à margem. Mas a correnteza era tão forte que eles jamais conseguiriam. Pessoas que viram aquilo chamaram a equipe de resgate, que foi esperar os dois pouco antes das quedas. Ali os resgatadores lançaram às vítimas uma boia presa numa corda. A boia caiu entre os dois. Um deles agarrou-a imediatamente, mas o outro viu passar um enorme tronco de árvore e segurou-se nele. É fácil imaginar o fim da história. Um deles foi salvo, o outro morreu.
Infelizmente algo similar ocorre na vida espiritual. Muitos acham que podem arranjar-se sozinhos. Esperam encontrar paz e esperança por meio de boas obras, ideologias, filosofias ou até religiões; muitos outros procuram esquecer sua carência em festas, férias, amizades ou até em álcool e drogas. Só existe uma boia salvadora: Jesus Cristo.
Só existe uma boia salvadora: Jesus Cristo.
Ele mesmo disse claramente que só existe uma opção: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele” (João 3.36). Não deixe de receber pela fé a mão estendida e traspassada do Salvador! Deus chama cheio de amor: “Meu filho, dê-me o seu coração” (Pv 23.26a). É como se Cristo apontasse lá da cruz para o céu com seus braços estendidos, chamando-nos pelo nome.
Nós, crentes, aplicamos o “está consumado!” em nossa vida diária ao nos lembrarmos desse evento. Quem foi salvo não poderá deixar de lembrar-se cheio de gratidão dessa obra e ser eternamente grato ao Salvador.
Certa vez os bombeiros foram chamados para combater um incêndio em uma casa. Quando chegaram ao local, viram como os vizinhos precisavam reter um casal para que não entrasse na casa em chamas. Lá dentro, seu bebê havia ficado no berço. Um bombeiro arriscou a vida e salvou a criança pouco antes de a casa desabar atrás dele. O bebê escapou com apenas algumas queimaduras no rosto. É claro que o bombeiro era convidado para cada aniversário da menininha. Já aposentado, recebeu um convite para participar da formatura da agora jovem mulher. Ao receber o diploma, ela pegou o microfone e convidou seu salvador ao palco, para entregar o seu diploma a ele. Lágrimas de gratidão correram por sobre as cicatrizes no rosto dele. Entre nós crentes não deveria ser diferente.
O Senhor nos salvou para toda a eternidade. Deveríamos sempre agradecer ao Senhor por isso com louvor e exaltação. Um modo de fazer isso é participar da ceia do Senhor, ocasião em que lembramos em particular do que ele fez por nós. A ordem do Senhor foi: “Façam isto em memória de mim” (1Coríntios 11.24). Adoremos sempre o Senhor Jesus por aquilo que ele fez!
Também aplicamos o “está consumado” na prática ao obedecer à sua Palavra. Assim como Jesus estava sempre imbuído de cumprir a vontade do Pai, deveria ser para nós também. Essa é a melhor prova de que o amamos, porque o próprio Senhor diz: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele” (João 14.21).
Outra aplicação possível é viver na vitória que Jesus conquistou. A vitória sobre o pecado, a morte e o Diabo agora também é nossa. Podemos reivindicá-la para nós, assim como Paulo diz: “Mas graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Coríntios 15.57).
A próxima aplicação ocorre ao viver no amor do Senhor Jesus. O amor de Jesus por nós, que lhe custou a vida, proporciona-nos uma profunda segurança mesmo em meio aos piores eventos. O apóstolo Paulo escreve cheio de júbilo que nada nem ninguém pode separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm 8.39). Por termos tamanho exemplo de amor, deveríamos também cumprir Tiago 2.8: “Se vocês de fato obedecerem à lei do Reino encontrada na Escritura que diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’, estarão agindo corretamente”.
Também aplicamos a consumação ao cumprir a missão do Senhor. Ao término de sua vida, o apóstolo Paulo pôde dizer que combateu o bom combate, guardou a fé e completou a carreira (2Timóteo 4.7). Será que também poderemos dizer isso um dia? Empenhamo-nos em realizar as obras que Deus preparou para nós para nelas andarmos (Efésios 2.10)? Somente teremos uma vida realizada se estivermos no lugar que Deus preparou para nós e fizermos aquilo que ele planejou para nós.
Se estivermos imbuídos da obra de Jesus tal como João e os outros discípulos, haveremos de dizer com eles: “Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (Atos 4.20). Conte para sua família o que Jesus significa para você. Confesse diante de amigos, conhecidos e vizinhos que Jesus é seu Salvador e que ele deseja salvá-los também. Faça como Paulo e não se envergonhe do evangelho de Jesus Cristo (Romanos 1.16). Afinal, o Senhor também não se envergonhou de sofrer e morrer por você e por mim.
Ainda aplicamos a consumação ao esperar pelo Senhor. Além da obra redentora, as palavras de Hebreus 9.28 nos lembram de mais uma coisa – trata-se da nossa feliz esperança e expectativa: “Assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam”.
O Senhor morreu para consumar a nossa redenção. Creio, porém, que ele aguarda com expectativa o momento em que poderá levar seus filhos para a pátria eterna, à casa do Pai, porque então a redenção estará completa em todo o seu alcance. Então certamente ecoará por toda a eternidade o brado de vitória do Gólgota: “Está consumado!”. Como será quando pudermos pela primeira vez olhar, olho no olho, para o Senhor Jesus? Como será quando virmos as cicatrizes em suas mãos? Então louvaremos eternamente o Senhor assim como registra Apocalipse: “Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!” (Apocalipse 5.13b).
O Senhor exclamou: “Está consumado!”.
Autor
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Stephan Beitze dedica-se ao ensino da Bíblia em igrejas, seminários, acampamentos de jovens e conferências. Junto com sua esposa, é missionário na Chamada da Argentina.